23 fevereiro, 2013

Pela primeira vez

E ela nem amanheceu, porque o dia dormiu ao seu lado, e a noite foi sol...

20 fevereiro, 2013

Capacidades

Vou cantar como falo
Dizendo dos mundos em que vivi
E fazendo música do que não é verdade.
Só vou falar do que não sou capaz de viver.
E quando me perguntarem do que gosto
Direi que sempre gostei do que me fez triste
Porque foi o que sempre me importou
Só o que faz a gente triste uma vez traz alegria de verdade
O resto... O resto é brincadeira.
Serei sincera quando chorar
E rirei quando o trem parar de rodar
E apenas quando ele parar
Na estação que ele mesmo escolher.

09 janeiro, 2013

Para a minha primeira melhor amiga e o seu primeiro bebê


*Ideias para a minha amiga, Mel, que será mamãe em poucos dias!
** Obs: minha amiga, não da Rafa. Kkk!

Os bebês não são exatamente o que parecem. Eles, na verdade (shhh é segredo), constituem um tipo de vida adulta, mas que não é adulta assim, do jeito que a gente conhece. Prestenção: isso é um fenômeno humano que coloca de cabeça pra baixo a vida de mães por todo o mundo, desde as Ilhas Caribenhas até o Paquistão. É registrado que apenas elas, as mães, alcançam essa “tal revelação”.

(Sério! O Datafolha comprovou!)

Eis aquilo sobre o que falo: bebês são criaturas completas em si mesmas, que sabem o que os adultos nunca saberão. É tipo assim: eles entendem o motivo de algumas pessoas gostarem de amendoim e outras não. Os bebês sabem por que são bebês. Sabem o sentido de existir, enquanto a gente procura o sentido de ser qualquer coisa, menos o que somos.

Bebês pensam. Bebês ensinam. Bebês dizem a você o que fazer. Bebês são professores. Bebês comandam o universo. Por causa deles, mães entendem algoritmos complexos, pais viram cientistas ao trocar fraldas em intervalos de reuniões, avós criam legumes transgênicos nos quintais para a papinha e tios compram camisetas de times (Sorry, Dani. Não achei uma função maluca pra você! kkk!)

As noites, isso fica bem claro, são reservadas para voltar a viver, não para dormir. Depois de tanto tempo sendo adulta, mulheres adultas viram mães: é aí que voltam a viver. Enquanto todo mundo dorme, papais não sentem sono ou mentem pra si mesmos sobre sua força hulkeana, quando, definhando à procura da cama pela casa - sim, perdem noções temporais, geográficas, históricas e até mesmo culinárias -  dormem no chão do banheiro. E os amigos compreendem o que é um chá de fraldas, cujo último interesse são as fraldas.

Bebês são mães das mamães. São eles que desvendam o porquê de o amor ser mais do que amor ao perceber que a pequena criatura faz parte da equação X+F²:{4}.99=X-47 raiz quadrada de 33 (a descoberta sobre como criar um bebê, em uma equação). É quase impossível acreditar em bebês. Acho que eles nem são reais.  Eu apostaria os sapatinhos de lã – guardados de recordação do dia em que cheguei da maternidade – que os bebês nem existem.

Mas as mães existem para ter bebês. Apenas para ter bebês. Não há mães sem bebês - e é aí que eu descobri que os bebês existem. Esses pequenos são o que – apenas eles mesmos – entendem ser, porque você, mamãe... É incapaz de completar qualquer pensamento sobre o que sente ao entender que a vida existe. Porque a linguagem vai trair o seu coração. Ela será indignamente insuficiente pra falar qualquer coisa – qualquer coisa – que é vivida quando os seus olhos encontram o seu bebê pela primeira vez.

E pra sempre será assim.

Seja mamãe, Mel! Felicidades, minha amiga. Pra sempre.

Orgulho de quem você é.

Bjo, 
Li

21 dezembro, 2012

De tanta vergonha, não tem nome


Algumas coisas explicam outras. Aí a gente entende mais da vida. Ou não.

Prefiro esquecer quanto tempo faz. Foram conversas demais, discussões, acordos, silêncios exagerados, solfejos infindáveis. Não comer, não dormir, não brincar na rua ou querer, mais que pipoca, acordar mais cedo... tudo pra ter mais tempo com ele, que ocupava toda a vida que eu precisava repartir. Testava ideias... Dava palpites. Brincava. Deixei, um tantão de vezes, os livros de lado... só pra crescer com o piano. Eu tinha 7 anos.

Tem tempo que eu e a música não conversamos mais porque, por vezes, brigamos... e eu pedi pra desistir. Pedi mesmo. Tava cansada. E não era nem pra eu me importar.  "Já sei viver assim".

Esqueci de como se olha pras notas sem sentir vergonha - porque é necessário sentir vergonha diante daquilo que não tem nome. Tem de ficar tímido e dizer que não é capaz de responder à tamanha tragédia acontecida entre um humano e sua vida: a música. Deve-se pedir desculpas; até perdão, se necessário... E tentar não decepcionar demais a sua alma quando todo som que você fizer for... nada. Se algum fá não representar exatamente aquilo que ela diz, a alma mesmo, renda-se à humildade de perceber, apesar de ser artista. Jogue-se no vazio. E não é preciso tentar de novo, porque tem de ser imperfeito, mesmo que tudo se expanda de horror, como um fôlego inspirado no desastre. Fazer sua música nada mais é do que ser, repetidamente, um intérprete ciente da indignidade.

Aí você esquece de que existe. Larga tudo. Momento em que o primeiro a se calar diante do silêncio entre um tempo e outro é você. Paralisadas, suas mãos se encantam. Já me chamaram de pianista. Eu sorri.

Não era pra doer. Doeu. Pedi pra voltar e imaginei o que seria de mim. Não sabendo esperar, liguei pra minha mãe. "E aí, como é que ele tá?". Tive medo de que não estivesse desafinado. Pedi pra que ela arriscasse algumas notas. Vibrei. Ele ainda me quer por perto... Mas eu sei que não vou voltar.

10 dezembro, 2012

sendo literal


Palavras são desastres.
Vivem por si mesmas
e mentem;
mentem como cúmplices, sabe?
Palavras são desastres.
Destroem a literalidade.