ah, eu não tenho paciência
mesmo não. não tenho paciência com essa intimidade que as letras têm com os
meus declínios literários. as benditas esperam, esperam e, quando você quer que
elas sumam da sua vida, não é que acontece um gesto monumental daquelas danadas
se juntando e formando tudo o que você não queria que ninguém lesse?
odeio
letras, mesmo. não gosto da maneira como me leem. não as dou nem o direito
a um determinante feminino. letras me comovem e me dissolvem. viro pó, viro
água e viro um nó esquisito que usa a mesma letra quatro vezes se ela for o
ataque da sílaba de um xingamento ótimo pra dias em que a gente não
é lógica. é, lógica no pensamento, lógica de ser inteligente quando
precisa ser.
essa
estratégia chata e obsoleta que esses sinais gráficos usam pra entregar o que
os olhos escondem, as mãos disfarçam (só pra quem não sabe ler) e o pensamento
refuta. eu gosto de me refutar. eu mereço isso, já que quase sempre tenho
razão.
eu
amo ter razão, e ninguém argumenta melhor do que os meus devaneios. talvez.
não, tenho certeza de que não. mas amo ainda mais soberbamente que me
ensinem que letras dos outros têm mais razões que as minhas. letras dos
outros não são de odiar...são de refutar... porque parecem meus pensamentos
quando estão descarregados, sem bateria. acho legal olhar pra um texto
e ver meu lá menor passeando nele, sabendo que - de
fato - foi escrito por minha causa.
gramáticas,
ginástica localizada (caligrafia) e ortografia são coisas pra pessoas
inteligentes. eu não sou inteligente. eu tento perguntar mais do que ser
perguntada pra não sofrer de perseguição congnitiva.
ai,
como odeio essas letras que escrevi. só estão aqui porque as sinto, som a
som.... gráfico a gráfico... dizendo o que eu não as deixo dizer, mas que, sei,
tá na cara do que elas dizem.
mas
se você disser que eu disse, eu não o fiz. e nego até a morte