de mim

HAMLET: Não atino bem com o sentido. Mas, não quereis tocar nesta flauta?

GUILDENSTERN: Não posso, príncipe.

HAMLET: Por obséquio.

GUILDENSTERN: Acreditai-me, príncipe, não posso.

HAMLET: Fazei-me esse favor.

GUILDENSTERN. Não conheço uma só posição, príncipe.

HAMLET: É tão fácil quanto mentir. Com os quatro dedos e o polegar regulais estes orifícios; depois, bastará soprar, para que saia música muito agradável. Vede: aqui estão as chaves.

GUILDENSTERN: Mas não está em mim tirar a menor harmonia, príncipe; não possuo essa habilidade.

HAMLET: Ora vede que coisa desprezível fazeis de mim. Pretendíeis que eu fosse um instrumento em que poderíeis tocar à vontade, por presumirdes que conhecíeis minhas chaves. Tínheis a intenção de penetrar no coração do meu segredo, para experimentar toda a escala dos meus sentimentos, da nota mais grave à mais aguda. No entanto, apesar de conter este instrumento bastante música e de ser dotado de excelente voz, não conseguis fazê-lo falar. Com a breca! Imaginais, então, que eu sou mais fácil de tocar do que esta flauta? Dai-me o nome do instrumento que quiserdes; conquanto vos seja fácil escalavrar-me, jamais me fareis produzir som.

(SHAKESPEARE, William. Hamlet)