26 novembro, 2011

Rafa em: o amor-tom-de-pastel e a cor-de-amarelo-canário


Nem é amor não. Ah! Mal chega a ser deslize! Tô dizendo, arre! Esse aí tem cor-de-amarelo-canário, e o amor da Rafaela nunca teve cor-de-amarelo-canário. Seus amores sempre chegam em tons pastéis. Duvido que é.

Isso que as pessoas fazem meio que de propósito, tipo amar e ser amado, suspirar, anotar número do telefone no guardanapo, morrer de amor à primeira vista, ganhar buquê de rosas ou ouvir um pedido de casamento ao som de um quarteto de violinos, nunca lhe ocorreram. Sério mesmo! Já a pediram em casamento uma vez (talvez mais de uma): o cara esqueceu as alianças e ‘tava com a mão suja de melancia. Pra ela, até que foi legal.

Rafaela é isso que a gente chama de bonito. Engraçada, rápida, amiga e comedora de brócolis; entende de quase nada e ri de (quase) qualquer coisa. Seu jeito de ser feliz inclui o que de mais bacana há na vida, como a chuva, o estacionamento grátis, a cozinha da casa da mãe, as meias nos pés frios, o cartão fidelidade do drive thru, o brigadeiro, as azaleias, o cafuné e as pessoas. Rafaela, quando ama os amigos, a família, o ré maior com sétima aumentada (D7+), as hortências, a panqueca, o cheiro de maresia e o Tobi, ama em amarelo. Tons pastéis são pras coisas que ela decidiu amar. O que ela ama desde sempre tem cor de canarinho...

A Rafaela dá risada e nem leva isso a sério, mas amou com amor-tom-de-pastel, como diria o amigo intrometido que lhe ensinou a ser menina. Amor-tom-de-pastel não tem cor-de-amarelo-canário, oras. 

Os amores-tom-de-pastel da Rafa chegavam a enjoar. Ou enjoavam, ou davam sono. Como todo mundo diz por aí que (antes de continuar, transponha sua voz para uns três tons abaixo, meio grave, só pra dar um ar de “verdade“) [diz que] “amor é decisão”, a nossa cidadã, inteligente e sensata como é, decidia. 

Decidir, sim, ela decidia, mas num amava não. Só pensava, só que... ih, necas. Eram pensamentos com cor-de-árvore (uma variação do tom pastel, com gosto de feira de domingo sem beterraba fresca). Ninguém se espanta com isso porque todo mundo acha a Rafa incomum. Chulé eu sei que ela já cheirou, mas isso não faz uma pessoa incomum, faz? Ah! Quem cheira chulé, meu Deus?

Faz um tempão que essa garota percebeu o equívoco da fórmula que amarra a pessoa amada em dois ou três anos com algumas frases clichês, que nem as de filme de comédia romântica.

Antes de decidir, ela precisa reconhecer. Pressentir. Quando a cor-de-amarelo-do-Sol hoje cedo ficou parecida com a cor-de-amarelo-canário, Rafaela teve certeza, contudo, não se assustou: ela nunca havia amado. Amada, sim. Foi até bastante. Mas um amor que não era nem riso, nem poesia, nem cor-de-amarelo-canário, que nem essa que ela começou a ver lá fora.