13 setembro, 2010

Meninos e castelos

Deus,

Visita os meninos e os castelos
Faz esperança voar no céu
e bonitas palavras cairem das árvores.
Faz olhos, bocas e abraços
surgirem nos tijolos dos castelos
e nos corpos mal vestidos
dos meninos sem chinelo

Dá pra ver, Deus, os meninos andando sem pais
e os pais andando sem meninos,
...se perderam do amor.
Dá pra ver, Deus, que as praias e as areias
e as nuvens e as gramas não são deles.
e as estrelas e as tulipas e as águas não são deles.
os olhos veem todo esse tanto de beleza da terra bonita.
Faz doer.
Conviver com os olhos faz doer e machuca pra curar.
Ver beleza - que não é do menino
e que não tem graça de olhar -
é desistência.
Conviver com a vida é matar os olhos de tristeza,
se ninguém os fechar.

Deus, faz amor no coração
de quem é covarde e mesquinho...
castelo ou menino,
de quem come calado ou é dono de esperança
e não a reparte
de quem é bonito ou feio, de quem é alegre ou triste...
de quem fala e de quem cala.
Faz amor na vida de quem pede...
Faz amor na vida de quem quer som, letra... história...
faz amor nos sons machucados das perdas,
das ruas, do choro amargurado e nu.

Chorar dói. Olhar dói. Viver dói.

Chorar seca. Tira fome.
Os castelos têm choro,
porque lá não há esperança de sentir falta.
Os castelos têm ecos de sons antigos,
não têm praias, não têm nuvens....
têm retratos de viagens.
Mas os castelos não são como as viagens, vivas.
Nos castelos têm meninos bonitos, feios, alegres e tristes,
falantes e calados, doloridos e mal guiados.
Os castelos sentem dor... de não ter do que sofrer.

Sofrem tristezas do excesso e vazio do absurdo.

Os castelos e os meninos vivem plagiando a vida.
Só não puderam viver ainda.

visita os meninos e os castelos...